sexta-feira, 6 de julho de 2012

sem título


Aquele velho desejo quente lhe subia pela garganta, desejo de violetas que violam a página, aquele branco da página, aqueles violões

I
entardecer de sombras úmidas,
Finalmente aquele grito bonito
que não se pode conter
A dolorosa beleza de sentir o veneno
que os olhos não veem
o desaviso do sangue nas cartas
o desvario de noite em teus olhos
depois nossas plumas caídas
No quintal das manhãs
Finalmente a manhã a romper nossa face
A nascer-nos bem no meio da cara
E corações quentes
Dos verões de nossos lençóis
Renascendo

II
violetas dançando caladas
uma valsa de fogo e fumaça
com a benção dos seres que habitam a floresta
desde que o mundo é mundo
povoando a escuridão da noite
e colorindo o dia
sendo a própria respiração dos bichos
sendo a própria lagarta que escala o galho úmido
sendo a fumaça no cachimbo do caboclo
o ar molhado turva a vista do visitante
seja bem vindo à festa na floresta, o pajé diz
uma velha senhora agachada te olha e sorri
carrega na testa a ancestralidade do mundo
no ventre todos os seres paridos
uma luz  te brilha no olho e ao redor da cabeça
é uma luz imensa, de tamanho infinito
estranhamente aconchegante e familiar
você chegou em casa


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