Entrego-me
à sordidez da minha preguiça, escrevendo sem saber pra quê, saboreando a música
e a fumaça. No céu, a lua se faz cada dia maior enquanto nós continuamos a ser
pequenos. Neil Young adentra na minha noite e docemente deixo tudo pra depois. O dia hoje não foi exatamente produtivo, e nem totalmente
desperdiçado. A cidade dorme quieta na janela, como de costume, às duas da
noite, e eu cheia de nostalgia das horas perdidas. Neruda me dizia agora pouco
que nunca compreendera porque chamavam duas da manhã. Estou cheia, de tanto
engolir as horas caladas da noite. Meus dedos regurgitam palavras esquecidas
nos confins do corpo, que lembra da vastidão do mundo e logo se esquece. As
notas musicais envolvem suavemente a noite outonal. No silêncio, dançam
personagens de tempos nunca conhecidos, que se amaram em cidades distantes.
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