quarta-feira, 27 de junho de 2012

a esperança maldita


A primavera sanguinária dos bosques despertou.* Esse verso pairava na cabeça de Roberto naquela noite. Era o segundo dia de primavera e ele ainda não sentira toda aquela leveza, toda aquela alegria e esperança que emanavam da terra costumeiramente por esses dias. Não sabia ao certo se era culpa sua, se estava mais insensível com o passar dos anos ou se era culpa mesmo do aquecimento global, que misturava as estações e deixava tudo meio caótico. Lia num livro naquela mesma tarde alguns devaneios sobre a esperança. Que era ela talvez o único sentimento externo a toda humanidade, algo que sentimos, mas não nos pertence. Que pertence à própria vida, é a expressão mesma da vida que faz com que os seres que padecem dos mais infames sofrimentos sigam a viver sobre a terra por vontade própria, por essa coisa que os alimenta desde dentro, que vem da terra, do chão, das profundezas e que sobe, sempre ascendente, sempre pra fora, pra frente, pra vida, com toda a sua luz verde que cega os olhos dos videntes. Saiu subitamente da sacada e foi revirar suas coisas, montes de papel cheios de anotações, em busca daquele poema. Buscava mesmo a própria esperança. Encontrou. 

*verso de pablo neruda

Nenhum comentário:

Postar um comentário