sexta-feira, 15 de junho de 2012

saudade filha da puta

Meus olhos cansados, sedentos de noite, querem ver-te azul. Meus olhos verdes, marejados de blues, querem-te hoje. Ah, como queria falar-te. Apenas assim trocar palavras despretensiosamente, a lua a rasgar nosso céu no horizonte. Sob a chuva de estrelas imaginárias quero ver-te. Quero ver-te apenas, e fim. Meu teclado lacrimeja ao som da bossa nova enquanto estou aqui a querer-te perto. Quase não posso contar as noites que sonhei contigo nesses dias ociosos. Não gosto de acordar com sensação de tu sem tu, não gosto de acordar com a tua ausência a me abraçar e se fazer presente. não gosto de não conhecer-te, e mesmo assim conhecer-te muito. Tenho medo. Sempre tive. Não gosto de inventar-te dia-a-dia, sem saber que gosto tens. Não gosto do medo que eu sinto de desconfiar de ti, não gosto de confiar em ti e tenho medo tanto de gostar quanto de não gostar. E a cadência de palavras etílicas, de alto teor alcoólico, me faz desconfiar mais ainda, dessa minha mania de inventar e ter medo sempre, e de fazer tudo junto, e ser a água e ser o vinho ao mesmo tempo ou de mudar assim de água para vinho assim tão rápido que nem a gente mesmo pode ver (muito menos a gente) e que parece mesmo muito louco, e talvez seja mesmo assim isso de sentir tudo junto e de não querer sentir tanta coisa, e de querer sentir qualquer coisa que não seja isso. Tudo isso me da uma certa raiva da tua pessoa, porque sentir raiva é sentir algo, e há algo que é necessário sentir nisso tudo. E a mais pura verdade é que eu sinto uma saudade filha da puta que me põe a escrita nervosa e me faz querer dizer tudo sem dizer porra nenhuma, só pra ter certeza que no fim das contas tu vai entender, mesmo que não seja fácil ou viável. E eu gosto de saber que eu escrevo para que tu desvendes, e só tu desvendes. E o medo é algo que eu sempre tenho nessas horas. e no final das contas, é triste saber que tu és só, só, e somente só mais um vício na minha vida bandida e perdida, que há tanto tempo não me faz lembrar do laranja que existe na tua companhia. Ou que eu só imagino. Imagina se ao menos existisse, imagina só, todo aquele laranja que sai do nosso corpo porque é nosso, mas só nos pertence quando estamos juntos. Eu nem gosto de imaginar de medo que tenho de desejar o laranja e botar tudo a perder, ou mesmo dar-me conta de que tudo sempre esteve perdido. Na verdade, é uma maldição das brabas essa de ter esperança. Odeio que tu me dês esperança, porque eu já tive e já perdi, e já aprendi a viver sem esperança nem inocência, por mais que isso possa perecer rude para uma alma assim sensível como a tua. Detesto ter que dizer-te que a esperança e a inocência são apenas a lembrança de um sonho que achamos que um dia tivemos na tenra infância, mas que nunca existiu. E porra, tenho boca suja até no papel, mas porra, vai te fuder, caralho. E trate de passear o mais longe possível (e o mais perto, sempre) dos meus inúteis e amargos pensamentos. Porque a velhice me pegou de jeito e já não mais tenho pique pra essas coisas todas, joviais como tu. 


porto alegre, verão de 2011

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