domingo, 17 de junho de 2012

os mares que nunca vi

De vez em quando vinha aquela tristeza que até boa era. Nesses dias eu sentia um pesar por todas as coisas que eu nunca fiz e nunca farei, por todas as pessoas que eu não conheci e os mares que nunca vi. Era difícil no início. Logo que começaram a me aparecer diante da cara esses momentos era sempre como adormecer um segundo ao volante na estrada, e mais uma vez adormecer um segundo ao volante na estrada, às vezes mais. E com o tempo, essa dor dos mares que eu nunca vi não foi passando. Mas a gente se acostuma com tudo, o ser humano é bicho muito calejável. Hoje, pelo contrário, é até alegre nosso encontro, recebo-a com uma saudação cordial e corriqueira, e ela vem ter comigo. Às vezes enche meu peito de silêncio e eu sinto que posso respirar todo ar do mundo porque o ar que eu inspiro vai pra lugar nenhum, e o vazio e o silêncio me trazem uma paz que está ao mesmo tempo no centro do peito e no ouvido, e eu sinto amor e saudade de todo mundo. E eu sinto um sorriso monalisa nos meus lábios que eu sei que não dá pra ver pelo lado de fora. E sei que isso só pode ser coisa das dores de mar, ou de alguma força que esteja silenciosamente agindo na minha vida botando lentamente tudo no lugar, como se cada minuto fosse ser melhor que o anterior. E me ocorreu que talvez isso fosse a esperança maldita mas meus olhos disseram que não, que é apenas a constatação de que tudo está mesmo ficando melhor o tempo todo, e até as coisas ruins já não são tão ruins depois de algum tempo, e não há com o que se preocupar.


2 comentários:

  1. Será que sou a primeira a ver? Gostei muito Pri do texto! E tá bonito o blog. Um beijo, Mo

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  2. o ser humano é bicho muito calejável mesmo.

    beijóca da Ninóca

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